Por Tais Gouveia
Durante o apagão em que o pequeno Enzo acorda sozinho, pois sua mãe Regiane saiu para trabalhar a noite, ele recebe a visita de sua avó. Os dois matam a saudade na cozinha e também discutem sobre questões terrenas (como se a tapioca que a vó preparou está boa, como está a criação do menino e se ele vai proteger a mãe) e celestiais (os dois indagam quem vai para o céu).
O maior conflito do filme reside na discussão em que o personagem da avó Marcélia se indigna em como a criança estaria brincando com brinquedos e adereços ditos para meninas, e ainda os guardando em uma caixa outrora sua, simbolicamente substituindo velhas crenças por novas. Após a avó enfaticamente dizer que o menino não iria para o céu e tampouco sua mãe, ela afirma que já está no céu. Logo após, os dois se abraçam e vão dormir, a avó cantando uma música cristã para a criança pegar no sono.
É evidente, pelo cuidado e atenção aos detalhes que a direção de fotografia e de arte tiveram, que a “penumbra” a qual o título se refere é uma espécie de estado transitório, como a própria definição da palavra: ponto de transição da luz para a sombra. Acompanhamos o personagem de Enzo sair da escuridão para ter uma conversa em luz de velas com a avó, depois voltando a escuridão juntos e depois acordando na luz natural do dia nos braços de sua mãe, onde o menino indaga se a sua avó voltaria, porém sua mãe não lhe dá resposta positiva.
O encontro na penumbra entre os personagens serviu ao propósito de fazer os personagens seguirem em frente, cada qual a sua maneira. A avó vai embora após fazer seu cântico cristão para embalar o seu neto, firme em suas crenças no paraíso onde afirmou outrora em que já estava. O menino e a mãe ambos aceitando sua partida que provavelmente não teria volta, ambos vão continuar vivendo o que a avó desaprovava, o que, no fim das contas, está tudo bem.
Penumbra é um filme sobre um momento de transição, da luz baixa para a escuridão e depois para a luz, da incompreensão para a aceitação, embora não haja um entendimento total entre seus personagens. Eles aceitam a si e aos outros, a vida e o além-vida como este é.
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