Por Tainá Araújo Simões
O filme começa com uma narrativa ambígua. Sabemos que o marido não está mais presente, mas não sabemos o que aconteceu, o que nos leva a pensar em várias possibilidades. A narrativa é conduzida em duas partes, começando de um ponto de vista de uma trama mais dramática, mostrando uma rotina solitária com uma mulher que sente com a ausência de seu marido e, de forma sutil, muda para um caminho mais tenso. Pequenas dicas deixadas ao longo do filme, como o corte na testa e quando ela joga a escova de dente e as flores fora, mostram essa virada no modo como vemos a história.
Tratando de quesitos mais técnicos, Meio Éden possui uma fotografia bela e que combina com o tom da narrativa. A câmera fixa e os enquadramentos que focam em mostrar as expressões e os detalhes do cenário nos ajudam a acompanhar o estado emocional da personagem, assim como contribuem para a mudança de uma atmosfera dramática para uma de suspense. O mesmo vale para a arte que compõe um cenário simples e praticamente vazio, mas que se atenta aos detalhes e que aparenta espelhar o estado melancólico da personagem.
O filme é repleto de planos longos e contemplativos, que, por um lado, servem como fator para criar tensão nas cenas, nos fazendo ficar na espera de que algo aconteça. No entanto, com o passar do tempo, a narrativa começa a se tornar cansativa, especialmente porque, ao longo do curta, pequenas dicas sobre o que está por vir são deixadas, o que torna a expectativa cada vez mais previsível, tornando os planos longos um pouco excessivos e contribuindo para a lentidão da trama, que se arrasta durante os quase 20 minutos de duração.
Acho que o fator principal do filme é mostrar que nem tudo é o que parece. De uma maneira lenta, mas bem construída, o curta-metragem mostra que, por trás da aparente solidão e luto, se esconde algo mais sombrio. A direção de Clara Estolano consegue, de forma habilidosa, criar uma atmosfera densa e ambígua, que vai revelando camadas da personagem principal até o momento final. Meio Éden é uma reflexão sobre as aparências e sobre como a dor, o amor e o ódio podem se entrelaçar de formas inesperadas. Portanto, o curta nos desafia a questionar nossas próprias interpretações e a olhar mais profundamente para o que está oculto sob a superfície.
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